Clima no foco da Bayer

O presidente da Bayer CropScience para Brasil e América Latina, Eduardo Whipple Estrada, diz que o clima nunca foi tão importante para a múlti alemã como agora. As mudanças observadas no campo nos últimos anos – os chamados “eventos extremos” alardeados pelos cientistas – ajudaram na compreensão de que a lógica dos negócios não se restringe mais à equação “problema-desenvolvimento do produto”.

“Precisamos agora de um conhecimento íntimo do perfil do agricultor brasileiro para nos adaptar ao seu modelo de produção. Precisamos de mais engajamento no campo. Não queremos ser só uma empresa de produtos”, disse Estrada após o evento “Impactos das Mudanças Climáticas no Agronegócio Brasileiro”, promovido pelo Valor ontem na capital de São Paulo.

Desde janeiro no comando da filial brasileira da Bayer CropScience, a divisão de sementes e defensivos agrícolas da Bayer, o guatamalteco disse, em sua primeira entrevista depois que assumiu o cargo, que sua missão é melhorar o desempenho de modelos “bio-agronômicos” no país. “Somos bons nos modelos econômicos mas não tão bons biologicamente”, afirmou Estrada.

Em outras palavras, isso significa que ele vê força no sentido estrito do negócio – vendas, canais de distribuição e logística -, mas uma lentidão maior que a desejada na capacidade de antecipar os problemas do campo – o desafio de enxergar as necessidades do produtor antes que elas se materializem ou que a concorrência as atenda.

As secas mais prolongadas e as chuvas intensas em regiões produtoras têm colocado à prova os sistemas de produção que vigoraram até agora. Ele evita fazer previsões públicas sobre o desempenho da companhia em 2014 no Brasil, após a alta de 41% das vendas em 2013, para R$ 4,4 bilhões. Sorrindo, cruzou os dedos das duas mãos e disse esperar que os dois dígitos se repitam.

A grande bandeira da empresa ainda é a linha “Liberty”, sobretudo o glufosinato de amônia, químico que combina o uso de sementes transgênicas para resistir à aplicação deste agrotóxico. O produto é a aposta da Bayer para ocupar parte do espaço aberto no mercado pelos problemas de eficácia apontados na utilização do herbicida glifosato.

A atual disputa da indústria de agroquímicos com o Ministério Público Federal (MPF) preocupa. O órgão pretende retirar do mercado nove ingredientes ativos que considera de alta toxicidade ao homem e ao ambiente até que eles terminem de reavaliados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“Qualquer proibição vai ter um impacto maciço às indústrias do setor”, disse Estrada, esquivando-se de falar sobre o assunto. Questionado se a companhia alemã teria alternativas para substituir esses produtos, no caso de uma vitória dos procuradores federais, o executivo limitou-se a dizer que “confia na análise das autoridades brasileiras”. “Essa precisa ser uma análise técnica profunda. Inovações tecnológicas nessa área são demoradas e custosas”, afirmou.

Menos pela ameaça dos procuradores, mais pela necessidade de antever tendências, as parcerias com cientistas e empresas devem aumentar no Brasil. Há dois anos, a Bayer CropScience criou a Academia Bayer de Inovação, um fórum de discussão entre pesquisadores do país para gerar produtos que respondam às demandas do campo. Globalmente, a companhia alemã já trabalha conjuntamente em ações com a Monsanto e com a John Deere.

FONTE: Valor Econômico

09/05/2014