Estudo identifica barreira a avanço do programa ABC no Norte e no Nordeste

Por Tarso Veloso | De Brasília

Segundo Assad, da Embrapa, falta de assistência técnica limita desembolsos

Falta de ênfase em culturas próprias do semiárido e baixa assistência técnica ainda dificultam a tomada de crédito por produtores rurais do Nordeste e do Norte no país no âmbito do programa agricultura de Baixo Carbono (ABC). A conclusão é do estudo “Um longo Caminho Até 2020”, feito pelo Observatório ABC.

Criado em 2010 pelo governo, o programa ABC tem como objetivo reduzir a emissão de carbono e aumentar a produtividade por meio do uso de boas práticas agrícolas. Já o Observatório ABC, lançado em maio, é coordenado pelo Centro de Estudo de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas (GVAgro) e desenvolvido em parceria com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV (GVces).

No âmbito do programa ABC, foram emprestados quase R$ 3 bilhões por meio de aproximadamente 10 mil contratos na safra 2012/13, encerrada em junho. O Banco do Brasil liberou cerca de R$ 2,6 bilhões e o BNDES, R$ 370 milhões. Do total, apenas pouco mais de R$ 450 milhões (1,6 mil contratos) foram para Norte e Nordeste.

O estudo enumera algumas explicações para esses baixos desembolsos. Segundo Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e integrante do Observatório ABC, o principal empecilho para a disseminação do programa nas duas regiões do país ainda é a falta assistência técnica.

A falta de especialização dos agentes envolvidos, segundo ele, prejudica a tomada de financiamentos do ABC. “Falta que a tecnologia chegue o agricultor no Norte e no Nordeste. No Sudeste e no Sul, temos mais profissionais com esse perfil”.

O estudo mostra, por exemplo, que as regiões Norte e Nordeste são as que contam com o menor número de faculdades com cursos de ciências agrárias no país. “As boas práticas são matéria obrigatória nos cursos de ciências agrárias. Portanto, seria mais fácil integrá-las ao sistema de assistência técnica nacional, mas hoje isso não acontece”, diz Assad.

O próprio estudo, porém, faz uma ressalva ao afirmar que, no caso do ABC, as universidades não são os únicos pontos de apoio para a formação dos “multiplicadores”. Segundo a pesquisa, instituições com alta capilaridade podem e devem participar, entre elas a Associação Brasileira de Extensão Rural (Asbraer), a Confederação da agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) – via sindicatos rurais – a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a própria Embrapa. “Somados todos, são 7.347 bases de apoio para o plano, e isso sem considerar empresas e ONGs”, diz o documento.

Ainda que as contratações nas duas regiões representem apenas 16% do total nacional, a fatia está em sintonia com a representação do Norte e do Nordeste no Valor Bruto da Produção (VBP) agrícola brasileira. Segundo o Ministério da agricultura, o VBP das 20 principais culturas do país nas duas regiões deverá somar R$ 35 bilhões em 2013, ou 12% do total nacional.

Conforme o secretário de Política Agrícola do Ministério da agricultura, Neri Geller, o ABC está avançando nas regiões. Ele lembra, por exemplo, que Sul e Sudeste têm mais pastagens degradadas que estão sendo agregadas para a produção de grãos, o que ajuda a engordar a demanda por recursos do programa.

De acordo com Marco Morato, analista da OCB, o clima também deve ser levado em consideração, além do difícil acesso à assistência técnica. “No Nordeste, até o reflorestamento é difícil pela falta de água. No Norte, não existe cultura de uso dos produtos usados no ABC, como milho, soja e eucalipto. A tecnologia tem que ser criada para os dois biomas específicos”.

Fonte: Valor Econômico , 26.07.2013