Oásis de água dentro da Terra: talvez 10 vezes maior do que o Oceano Pacífico

Foi publicado na revista Nature um estudo que abre novos cenários sobre a evolução do magmatismo terrestre e da tectônica das placas.

A reportagem é publicada pelo jornal La Repubblica, 13-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Se as estimativas do estudo forem confirmadas, a ideia da formação geral do nosso planeta deveria ser completamente revista: dentro da Terra haveria um oásis de água cuja extensão total poderia ser igual a 10 vezes a do Oceano Pacífico, que cobre 1/5 da superfície do planeta.

A estimativa é de uma equipe de pesquisadores, da qual também faz parte Fabrizio Nestola, da Universidade de Pádua, que publicou na Nature um estudo que abre novos cenários sobre a evolução do magmatismo terrestre e da tectônica das placas. O trabalho dos pesquisadores parte da olivina, um mineral que compõe 60% do interior da Terra, desde a superfície até 410 quilômetros. E que, com o aumento da pressão e da temperatura, se transforma em minerais com a mesma fórmula, mas com uma disposição espacial diferente dos seus átomos, tornando-se antes wadsleyita e ringwoodita, que deveriam se encontrar entre o manto superior e o manto inferior, isto é, naquela zona chamada de transição entre os 410 e os 660 quilômetros de profundidade.

Analisando a propagação das ondas sísmicas em profundidade, no entanto, os cientistas consideravam que, naquela faixa, deveria se encontrar algo de densidade inferior: criando em laboratório os dois minerais com uma densidade menor, os pesquisadores geraram artificialmente a wadsleyita e a ringwoodita capazes de hospedar até 2,5% de água, aproximando assim a densidade dos dois materiais à da olivina e sugerindo que a faixa é realmente um oásis de água dentro da Terra.

A equipe de pesquisa identificou pela primeira vez uma amostra de ringwoodita terrestre ainda encapsulada dentro de um diamante encontrado em uma jazida brasileira do distrito de Juína, e essa amostra contém cerca de 1,4% de água.

“A descoberta – explica Nestola – não só permite finalmente explicar as anomalias observadas por meio da tomografia sísmica profunda, mas também abre um cenário completamente novo sobre o interior do nosso planeta. De fato, 1,4% de água na ringwoodita permite estimar um conteúdo médio de 1% de água na zona de transição. Tal percentual corresponde a uma espessura de água líquida de cerca de oito quilômetros sobre toda a superfície terrestre.

Considerando que o Oceano Pacífico cobre cerca de 1/5 de toda a superfície terrestre e tem em média 4,2 quilômetros de profundidade, por comparação, é como se tivéssemos bem ‘escondida’ dentro da Terra uma quantidade de água igual a cerca de 10 oceanos tão profundos quanto o Pacífico”.

FONTE: IHU