- Números são do índice Climatescope publicado esta semana
CLÁUDIO MOTTA
Produção eólica em Fortaleza Latinstock
RIO – O Brasil tem a economia mais verde da América Latina e Caribe. O país está novamente no topo na segunda edição do Climatescope, relatório anual que classifica 26 nações da região quanto à sua capacidade de fomentar o crescimento da energia de baixo carbono. Os especialistas analisam a infraestrutura para a chamadas fontes limpas, excluindo as hidrelétricas de grande porte, e o desenvolvimento de novos projetos, entre outros parâmetros. O trabalho, apresentado hoje pela Bloomberg New Energy Finance (BNEF) e o Fundo Multilateral de Investimentos (Fomin) do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) na Casa Daros, em Botafogo, ainda será publicado em outubro em sua versão final, na qual contará com os perfis detalhados dos 26 países analisados.
A partir de 39 indicadores que medem a capacidade de atração de investimentos, foi criado um índice que varia de 1 a 5, sendo que quanto maior a nota melhor. A brasileira ficou no meio desta escala, com 2,48 (contra 2,64 em 2012). O número reflete a queda de 36% dos investimentos nacionais em energia limpa em 2012 na comparação com 2011, totalizando US$ 9,2 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões).
Esta desaceleração não foi exceção. Dados do Climatescope mostram que a média global de investimentos caiu 11% no mesmo período. Por isso, os resultados da América Latina e Caribe — queda de 3,8%, chegando a um volume de US$ 17 bilhões — são bons.
Quando a América Latina e o Caribe são analisados em bloco, contudo, a participação na fatia mundial é considerada pequena, permanece na casa dos 6%. Esta timidez nos investimentos em energia limpa na América Latina foi uma das principais razões para a criação do Climatescope. Por outro lado, quando a retração brasileira dos investimentos é excluída da conta, a América Latina e o Caribe conseguem um crescimento de 164% nos investimentos em 2012 em relação ao ano anterior, passando dos US$ 2,8 bilhões para US$ 7,5 bilhões. O ótimo resultado é puxado por países como México (com taxa de crescimento de 450% dos investimentos), República Dominicana (431%), Uruguai (327%), Peru (325%) e Chile (314%).
— A redução dos investimentos brasileiros também reflete a demora pela qual o BNDES, principal financiador do Brasil, repassa o dinheiro, uma vez que só captamos os recursos repassados — ressalta Maria Gabriela da Rocha Oliveira, diretora para América Latina da Bloomberg New Energy Finance. — Além disso, as notas atribuídas são ponderadas em relação ao tamanho das economias. Caso contrário, não seria possível comparar num ranking países grandes com pequenos.
O que chamou a atenção dos especialistas foi, por um lado, a disponibilidade de recursos naturais da América Latina, que permite a produção de energia limpa em grande escala. E, por outro, a necessidade de ampliar a produção da energia para alimentar estas economias. Mesmo com estas premissas, a energia limpa não é tão grande na região. Uma das rações para explicar isto, de acordo com especialistas, é o tamanho das políticas de incentivos, maior na Europa e nos Estados Unidos.
— Mas agora estamos percebendo que, mesmo sem tantos incentivos, os preços de geração de energia limpa estão ficando mais baratos — constata a especialista. — Diante deste cenário, começamos a ver que a região poderá ser a primeira a apresentar um volume significativo de produção de baixo carbono sem tanto subsídio. O Brasil está se consolidando com um exemplo desta política, baseada na dinâmica do mercado. Os leilões de energia ficam mais atrativos, e se consolidam como um novo paradigma para energia renovável, no qual os governos podem gerenciar melhor seus recursos.
Além do Brasil, outros oito países da região já realizam leilões como forma de incentivar a produção de energia limpa: Argentina, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Jamaica, Panamá, Peru e Uruguai. Este instrumento, porém, pode ser usado para todas as formas de geração elétrica. Na semana passada, um leilão contratou no Brasil R$ 20,6 bilhões em 19 projetos, de hidrelétricas a térmicas.
Cadeia de produção nacional é completa
A cadeia produtiva para a geração de energia limpa instalada no Brasil está entre as mais completas do mundo, de acordo com o relatório Climatescope, que a Revista Amanhã teve acesso com exclusividade. A nota neste quesito (4,25) foi a mais alta e mais próxima de 5 — a pontuação máxima — do que qualquer país já alcançou.
— Essa pontuação mostra que a indústria da energia limpa está bem consolidada no país, a estrutura está toda lá — diz Maria Gabriela da Rocha Oliveira, diretora para América Latina da Bloomberg New Energy Finance. — O Brasil não tem nada de geotérmica, porque também não precisa. Mas tem cadeias 100% completas para biocombustíveis, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas. Na cadeia da eólica, só precisa da produção de pás, mas isso está acontecendo por conta de novas regras de financiamento do BNDES. E, na solar, faltam apenas três segmentos. Por isso, o horizonte de crescimento da energia limpa brasileira é grande. O investidor que olhar o país encontrará tudo que precisa.
Na composição da nota final do Climatescope, porém, as cadeias produtivas têm o menor peso (10%) dos quatro parâmetros analisados. O mais importante é político (que equivale a 40% do índice). Neste quesito, os especialistas analisam a estrutura do mercado, sua regulação, a legislação e as regras de incentivo. E o Brasil ficou em segundo lugar, com nota 2,25.
O terceiro parâmetro para determinar o índice é a existência ou não de fundos de apoio à energia limpa, incluindo a disponibilidade e o custo do capital local (valendo 30% da nota final). Neste quesito, o Brasil teve a pior posição, ficou em sétimo (nota 1,56).
Por fim, são verificadas as condições para projetos de compensação de carbono, além das ações de redução de emissões e outras práticas sustentáveis (20% da nota). Neste campo, o país também foi o melhor da América Latina e Caribe (nota 3,40).
Todos estes dados que formam os subitens e compõe a nota final do índice ficarão disponíveis na internet a partir de outubro. Quem quiser fazer a comparação com a pontuação do ano passado, ela permanece on-line no endereço bit.ly/Climatescope12.
— Um dos objetivos do índice é difundir informações sobre a energia limpa — salienta Maria Gabriela. — O site é bastante interativo e até os microdados ficam disponíveis.
O próximo passo será ampliar a área de atuação do Climatescope, para que o índice se torne um parâmetro global. No ano que vem, a África e outros países em desenvolvimento da Ásia serão incluídos na pesquisa.